FIGURAS
sexta-feira, 24 de junho de 2011
sábado, 4 de junho de 2011
Arquitectura
Excerto da memória Desc.
“...A habitação caracteriza-se pela “loja“ (semi-cave) aproveitando o desnível e bem insolada virada a Sul com outra casa-divisão que serviu de cozinha, esta também em pedra.
Em cima desta cave, o r/c com melhor vista e mais arejada, a habitação. Construída toda ela em madeira de pinho, telhado empinado e telha marselha, protegida do vento e chuva por chapas zincadas (o que havia ao tempo) que tentavam cumprir a sua função:-proteger. De difícil manutenção; pintura , telhas que voam , sotão molhado e as janelas de madeira cuja pintura e estabilização era inglória. Hoje já disforme e retorcida no seu volume e aparência, nos seus materiais, é difícil perceber como seria o interior para quem nunca lá habitou.“
Do que se disse atrás, tem tudo a ver na adequação e inserção da proposta, o clima, o volume existente..., o programa, a deterioração, levaram à concepção arquitectónica contemporânea, na sua linguagem, formalidade e atitude. O volume é aerodinâmico e uno, homogéneo e contínuo e não tem concavidades. (não existem tacaniças, larós e caleiras ) Toda ela é convexa para fora, donde é toda concâva para dentro, confortável portanto. Um sólido irregular cujo conceito é não haver nem cobertura nem alçados, mas todos eles em contínuo. A continuidade é apenas interrompida pelas janelas e portas (fenestrações). No cinzento absoluto, entre as pedras graníticas e uma grande parte do ano de céu côr de chumbo, o seu revestimento é vermelho, não cadmium, mas lacre, laca chineza, antes de chegar ao espectro “bordeaux“ mas não tão agressivo como a cor da telha, laranja escura..
O que realmente quis fazer foi estabelecer uma relação com os outros, com a memória e dar-lhe continuidade na contemporaneidade, sem nunca me desligar do sítio, da geografia, do território. Paralelamente, o problema do desenho no seu sentido vasto. As regras da arquitectura indicam como fazemos o desenho, e o desenho tem de se cumprir (na obra), pois trata-se de uma casa. Mas o que é uma casa no seu sentido restrito? Um espaço minimamente protegido que podemos habitar. Mas podemos habitar num espaço que não é exactamente uma casa? E será que podemos habitar uma casa sem telhados em que não se distingue o que é um alçado e uma cobertura? E uma rocha o que é? Um sólido sem espaço dentro. Indesenhavel a duas dimensões.
Voltemos ao território. Aquele equilíbrio instável da rocha é a minha casa. A Serra é sempre soturna e agreste, cinzenta ou branca de morta. A neve e o gelo,enfim, achamo-los engraçados e divertidos, no entanto escondem tudo debaixo do manto e sintetizam a forma.
Volto ao desenho. Ao longe vejo tudo branco, só mais tarde pelo aquecimento descubro que por debaixo é cinzento -é uma rocha- A surpresa do vermelho- o inesperado.O bloco habitável e o desenho do bloco sem curvas(porque disso encarrega-se a Natureza) e eu sou arquitecto e teimo em fazer arestas e rectas.(porque isso não existe na Natureza) mesmo que pareça. O horizonte é sempre curvo e o espaço também. Teimo em fazer um sólido oco que perverte a tradição, não para ser diferente, mas porque encontro uma descodificação para “a casa“. Começo tudo de novo. Até mesmo quase não a consigo desenhar. É o contra-ponto da regularidade da “loja“ e encontro a memória do disforme e da decadência da ruína. O equilíbrio instável está “seguro“. O cliente pode habitar um objecto que lhe faz lembrar (trazer) a memória e o novo e inesperado. Muito provavelmente é um iglo desenhado por uma criança. Sim recordo-me de quando “aquilo“ era uma casa, direitinha e tradicionalmente realizada ao tempo.
A casa é portanto a vaga recordação na sua forma da Cabana(ver fotos da pré-existência) e assenta na “loja“(palafita) com tedência para resvalar.E um calhau da Serra o que é?




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arquitectura,
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